segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

17

Esquece essa de odiar TV, senta aqui comigo, vamos ver qualquer canal, deixa eu pego uma cerveja, vou abrir essa janela, tira esse vestido, solta esse cabelo, deixa o trabalho pra lá, à noite te faço um jantar e uma massagem nos pés. Anda, tira esse sapato apertado, dança um bolero imaginário comigo na chuva lá no quintal, vai, sai correndo e se esconde debaixo de cama, que eu finjo que não sei onde você ta. Dorme comigo, eu te cubro de madrugada, acorda descabelada e faz barulho pra que eu acorde também, eu vou com você até o banheiro, caso uma barata apareça, me molha com a mangueira enquanto eu dou banho no cachorro, briga comigo pra poder secar a louça. Deixa eu te comprar aquele chocolate que só eu sei onde encontrar, deixa eu me embriagar com seu cheiro de flores, discute comigo por causa dos cigarros excessivos, escolhe a camiseta que eu vou usar essa noite, depois arranca ela e me arranha nas costas, me morde no ombro, dorme nua nos meus braços, volta pra casa, volta pro meu abraço de carona com uma brisa morna desse verão.

sábado, 29 de janeiro de 2011

Na cabeça, no coração


Sábado a noite, só faz chover e ao invés de amenizar o calor, só ta piorando. Tá tudo abafado, o tempo, minha casa, minha cabeça, meu coração. Todo mundo saiu e esse silêncio desnorteado me enlouquece, seu cheiro entra pela janela do meu quarto com a brisa, esse seu cheiro de vertigem.

Mais cedo te encontrei no personagem do livro que eu estou lendo, vocês não se parecem fisicamente de forma alguma, exceto pelos olhos, mas dividem a mesma forma de pensar e de agir, dividem a mesma alma. Ainda não decidi se quero continuar ou interromper a leitura. Ver você naquelas linhas não anda me fazendo muito bem. Essa semana foi embora se arrastando, e não foi uma das melhores. Há muito tempo eu não sentia tanta falta de alguém como eu senti a sua todos esses dias. Eu tenho tantas coisas pra te dizer, eu escrevi cem mil cartas pra você, que no momento estão rasgadas em cima da minha cama, e eu ainda preciso buscar algumas coisas minhas que ficaram na sua casa, mas venho adiando esse dia com medo do que pode acontecer, por medo da sua reação. Talvez eu esteja agindo e pensando assim por conta desse calor, ou por causa da TPM. É talvez!

Essa chuva lá fora podia levar embora todos os meus pensamentos ruins, podia levar embora essa sensação abafada aqui dentro. Porque esperar que você mude é como esperar uma brisa fresca nesse verão.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Meu primeiro final feliz

A campainha tocou, ela estava atipicamente atrasada, mas não importava. Ele a beijou na porta e a convidou pra entrar. O apartamento estava ainda mais apertado que de costume, tamanho o numero de velas que ele havia acendido, as cortinas estavam fechadas, e uma mesa para dois estava posta, havia um cheiro de flores, velas e frutos do mar no lugar do de pizza velha e meias sujas.

Ela estava extasiada, sempre soubera que ele era romântico, apesar de ser um canalha. Mas não conseguia deixar de pensar que essa noite era dos dois, a ultima noite dele na cidade e era ela que estava com ele.

Sentou-se no sofá enquanto ele colocava uma musica, ele a tirou pra dançar uma, mas dançaram três.

- Lembra quando a gente namorava e íamos cozinhar de madrugada e dançávamos enquanto o macarrão instantâneo não ficava pronto?

- É claro, nós dançávamos a toda hora, em qualquer lugar. Quando foi que a gente perdeu isso hein?

O jantar ficou pronto, e eles conversavam muito, falavam sobre frivolidades, coisas do cotidiano, relembraram cada momento que passaram juntos quando eram jovens. Mas um silêncio estranho tomou conta do lugar, os olhos dela marejaram de lágrimas.

- Como seria se a gente tivesse tido aquele bebê?

- Eu não sei, eu me arrependo muito, até hoje.

- Eu também. É melhor a gente não falar sobre isso.

Eles se beijaram e se abraçaram e se amaram ali mesmo no sofá, com a música deles tocando no radio. Parecia mágica, parecia sonho, e seria, se o sonho não tivesse hora marcada pra terminar.

Abraçados nus no tapete da sala, terminando mais uma garrafa de vinho, ela sussurra:

- Não vai amanhã, por favor, por nós, pelos nossos dezessete anos.

- Eu não queria ir, eu juro, ainda mais depois dessa noite. Eu queria que gente tivesse dado certo antes, se eu não tivesse sido tão filho da puta...

Já era mais de três da manha quando o táxi buzinou na frente do apartamento dele, ele desceu as escadas com ela, deu um beijo demorado em sua têmpora, e sussurrou em seu ouvido:

- Faz as malas, o nosso vôo sai as nove.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Durante um tempo eu fiz o que era óbvio, chorei, senti saudades,acreditei, rezei, fui humana, fui antiga. Então parei, e percebi que não era o caminho certo. Eu não conseguia fechar ciclos. Agora, eu sei que estou no rumo. Você foi você, e vai continuar sendo, nada que eu fizer, ou quiser, vai mudar isso.
Então eu experimentei ser feliz, não do jeito que eu era antes, de um jeito novo, de um jeito meu. Sem pensar em você, sem querer chamar atenção, sem querer te provocar. E sabe, vem dando certo, eu fui feliz, eu estou sendo. Quando a gente quer, a gente consegue. Então me deseje sorte porque os ventos estão soprando para o sul, e eu vou voar com eles. E como diria o poeta ”De repente a gente se encontra numa esquina, numa praia, num outro planeta, no meio duma festa ou duma fossa."

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Ana


_ Ana- ele disse, e a palavra ecoou pelo cômodo vazio e pareceu transportá-lo pra fora de suas memórias. Virou-se, olhou para a parede onde antigamente ficava uma prateleira com as fotos de suas viagens.
Não sabia ao certo, se fizera bem indo até lá, a casa era a mesma, o mesmo papel de parede, o mesmo carpete, os espelhos dos banheiros, os aparadores, os lustres, inclusive as declarações de amor escritas por toda parede do quarto de hóspedes. Lembrou-se que todas as vezes que entrava naquele quarto havia um novo poema feito pra ele rabiscado na parede.
Ele apenas havia espiado pela porta, não teve coragem de entrar, muito menos de ler aquelas palavras, existia tanto dela naquele quarto que só de passar pelo corredor era possível sentir seu cheiro.
Entrou, e no meio de tantos Shakespeares e Pablos Neruda, caiu ajoelhado no tapete, pensou que antes Ana tivesse morrido, assim ele teria de se conformar com sua partida, e não passaria os dias se alimentando de lembranças e sobrevivendo de recordações.
_ Ana – sussurrou.
Agora as lágrimas rolavam livremente pelo seu rosto.
Se não tivesse sido tão cruel e estúpido no passado, talvez, eles ainda vivessem ali, e talvez eles tivessem mais prateleiras com fotos de mais viagens, e talvez todas as paredes da casa estariam preenchidas com poemas e declarações.
Já fazia tanto tempo, trinta anos na próxima quarta, trinta anos que ele sentia um peso, era como se carregasse outro corpo, era como se ele tivesse de se arrastar e fazer uma força incrível pra mover-se apenas o mínimo, trinta anos de arrependimento.
Com o passar dos anos, percebera que quando mais velho você fica, mais as coisas se partem, não tinha medo de morrer sozinho, pois já vivia assim, tinha medo de morrer sem que Ana soubesse tudo o que ele guardava, sem que ela soubesse de todas as visitas a casa antiga, de todas as lágrimas derramadas, de todos os boleros ouvidos de madrugada. Mas em seu âmago, tinha plena certeza de que nada adiantaria se ela soubesse, um pedido de desculpas com trinta anos de atraso não tem lá muito poder atrativo.
_ Ana - ele disse em abandono.
Mas seu nome estava morto no ar, e ela nunca iria ouvi-lo, Ana não era mais nada além de um nome.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Sem palavras

Não acredito no que você disse pra mim ontem a noite quando estávamos sozinhos, você jogou as mãos pro alto, você desistiu. Não acredito no jeito que você olhou pra mim, com esses seus olhos brilhantes de James Dean, nesse seu jeans apertado e cabelos longos e seu cigarro manchado de mentiras.
Podemos te consertar se você quebrar? E seu slogan é apenas uma piada?
Eu nunca mais falarei novamente. Menino, você me deixou sem palavras. Nunca mais vou amar de novo, você me deixou sem palavras.
Não posso acreditar como você gaguejou para mim, essa sua conversa fiada. Você estourou as cicatrizes do meu coração e os meus sonhos de bolha. Não acredito em como você olhou pra mim, com seus olhos de Johnnie Walker.
E eu sei que isso é complicado, mas sou um fracasso no amor, então levante um copo para brindar a todos os corações quebrados, todos os corações destruídos.
E depois de todos os drinks, e bares que freqüentamos. Você desistiria de tudo? Poderia eu desistir de tudo por você?
E depois de todos os meninos e meninas por que passamos. Você ainda desistiria de tudo?
Poderia você desistir de tudo, se eu te prometer que eu nunca mais vou dizer nada, e que nunca vou amar novamente, que não irei escrever uma música, sequer cantar.

Stefani Germanotta