sexta-feira, 29 de abril de 2011

Vai por mim

Não, não fica bem aparecer por lá agora, ainda. Faz só uma semana. Ele vai estar naquela fase em que o canto dos pássaros na janela não lembra música, só ruídos verde-escuros. Ele está bem, evidente que está. Tem trinta e dois dentes, barba, um amigo que outro, discos do Nirvana, quem não estaria? Não, não, chorando já é pedir demais. Outra? Duvido muito. Os primeiros dias, vinte ou dez, a gente se dá conta de que não tem mais ninguém pra se arrumar, perfumar, ficar pronto. Ele deve estar com aquela calça cinza de algodão, caminhando de meias pela casa, apoiando a testa no vidro da janela, de vez em quando. Tomando coragem de olhar pra rua e o que vem por aí, depois de você.

Não, não telefona. Me espera chegar. Do mesmo, de nada vai adiantar. Ele está justamente esperando por isso, testando as possibilidades, do fixo pro móvel, e vice-versa, pra checar mesmo se ambos estão cumprindo seu papel. E tá tudo em cima, funcionando, não vá estragar todo o processo de cura, os primeiros dias são elementares. Telefonar de bobeira pra ficar em silêncio do outro lado do mundo, enquanto ele espera que você diga "estou-arrependida-posso-voltar?". Pra quê? Ele até já ensaiou o timbre pra dizer, como vai desdenhar um pouco de início, depois apresentar seu disfarce em condições infantis, aquele jeito frágil querendo parecer forte só pra mostrar que pode te proteger num anoitecer de segunda-feira.

Você não terminou porque precisava de mais atenção? Então, criatura. Agora é o que ele mais precisa, depois de ouvir "não-dá-mais-vamos-terminar-isso-antes-que-alguém-se-machuque-mais". A não ser que você queira parecer louca, aí guardo suas costas, vá em frente. Se ele for realmente o Grande Amor da Sua Vida? Não é, vai por mim, a gente sempre sabe. Não pense maluquices. Ainda é cedo. O tempo pra surgir um novo amor leva uma eternidade, não se engane. Agora serão apenas uns casinhos sem importância, ele vai cultivar dois ou três, todos com a cor de cabelos, a voz e o cheiro bem diferentes dos seus. E mesmo que alguém apareça, o alarme dele não vai soar.

Não, você não é insubstituível. Mas também, o que você queria? Uma espécie de hipoteca amorosa? Um estepe sentimental? Não é assim. Ele é bacana, vai encontrar outrem um dia, vai conquistá-la com o mesmo mel que grudou você, ninguém perde a manha. Um pouco de ciúme é natural, poxa vida, você é gente, isso é parte integrante. E, fatalmente, vão se cruzar por aí. São tantas as esquinas. Vocês vão beber um café quente juntos, falar amenidades, sobre novos cortes de cabelo, você está bonita, e você mais maduro, como está sua mãe e tudo mais. Nos momentos de silêncio, baixarão o queixo, com medo de amarrar olhares e, talvez, voltar tudo aquilo outra vez. Mas vai ser só isso. Se existem outros caras legais por aí? Claro que sim. Vai por mim.


Por Gabito Nunes

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Pra você, do 107

Faz uma semana que as coisas que eu ando sentindo começaram a ficar embaralhadas. E essa é a parte que eu não gosto, pois como uma boa capricorniana que sou, desejo ter o controle das coisas, inclusive dos meus sentimentos. Visto que até semana passada eu sabia distinguir amor, amizade, de paixão, de saudade, de carinho, de ternura, de respeito, de tesão e tudo mais, e sabia onde você se encaixava dentre essas e tantas outras opções de sentimentos afetivos que envolvem duas pessoas.

Pode parecer drama, talvez até seja um pouco, mas eu to realmente aborrecida com o que vem acontecendo, com esse seu desinteresse absurdo por mim.

Mas sabe o que mais ta me matando? É essa confusão de sentimentos dentro do meu peito, porque você saiu correndo sem o meu consentimento e tomou lugar de coisas importantes na minha vida, e eu não sei como te tirar dali mais. Você chegou sorrateiramente com uma mochilinha, mas agora já está de mala e cuia acampado dentro do meu coração; E eu não sei te expulsar, e também não quero que você saia.

Parece simples né, mas sabe aquela sensação de quando você sabe que tem alguém, mas não sente que tem, então, é mais ou menos isso. E o que eu sinto por você ainda não tem nome. Me pego pensando e percebo que não sei nada sobre sua vida, não sei nada sobre o que você já fez ou faz, talvez o fato de eu não te sentir seja devido ao grande mistério que você representa.

Talvez eu seja louca, por estar sempre encontrando defeito, exigindo demais, mas com o tempo eu tive que aprender a separar o joio do trigo, pra não sofrer sempre, mas com você é diferente, eu não quero separar, eu não me importo de sofrer.

To com medo que isso vire uma tragédia, porque eu me entreguei rápido demais, e é como Shakespeare diz: Estas alegrias violentas, têm fins violentos.Falecendo no triunfo, como fogo e pólvora, e blá, blá, blá. Você entende?

É tudo muito célere, muito intenso e eu com medo disso acabo cobrando demais, ou cobrando o que eu julgo necessário pra minha auto satisfação. Talvez eu seja um pouco egoísta, mas talvez não, e quero o melhor pra mim, mas se o melhor é você eu já nem sei dizer.

Eu to sempre querendo alguma coisa a mais, eu nunca to satisfeita, eu tenho sede de coisas novas, de sentimentos novos, de experiências novas, eu canso fácil das coisas, mas o que eu quero? Se é amor, se é um drink ou um pouco mais de sal, eu já não posso responder.

Mas eu desejo que dessa vez as coisa se encaixem, que quando nós estivermos longe as horas sempre possam ser iguais, e que ao acordar no número 107 você lembre que eu to aqui, dormindo talvez, mas com certeza sonhando com você.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

O céu pode estar azul eu não ligo, sem você é só perda de tempo


O dia tava cinza, e as varias nuvens faziam o céu ficar assustador, porém batia uma brisa morna que não combinava com o temporal se formando atrás dos prédios.

Era uma praça bonita, e você estava com seu irmão debaixo de uma árvore, bebendo alguma coisa, eu passei por você e não te encarei, com medo da sua reação, mas você me surpreendeu correndo atrás de mim, me segurando pelo braço e dizendo que queria conversar. Nós saímos andando pela avenida que começara a ficar molhada. Em segundos estávamos encharcados andando na chuva de mãos dadas do mesmo modo e com a mesma inocência de anos atrás. Nós fizemos as pazes sem ao menos falar uma palavra, e tudo estava bem, e nós tínhamos aquela idade e aquela cabecinha de que o mundo era feito pra nós. Podia estar chovendo ou o céu podia estar azul, que não importava, os dedos entrelaçados eram mais importantes que qualquer tempestade. E você me dizia que queria ter tido uma bicicleta pra poder pedalar até minha casa, pra eu poder dizer que ainda era sua, e que queria ter asas e sobrevoar meu telhado pra tapar meu sol, para que eu percebesse que sem ti não tem ninguém pra me aquecer.

Eu sentia as gotas geladas caindo na minha pele, mas não sentia frio, nós nos abrigamos embaixo de uma marquise e você me abraçou e seu peito estava quente e aconchegante, Você sussurrou no meu ouvido um pedaço da nossa musica e disse que sentia falta de mim cobrando um pouco de colchão.

Anoiteceu e nós estávamos num lugar quente, e familiar, com paredes rabiscadas e uma cama bagunçada, você se aproximou e desfez a casa que casava com o botão da minha blusa molhada, costurou um sorriso na minha boca e encheu meu peito com alguma coisa cuja qual eu já havia sentido, mais não me lembrava o que era. Nos deitamos nos lençóis estampados prontos para dormir e você me perguntou “Em que sonho eu te encontro?”

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Eu sigo, eu minto, eu sinto


Eu relevei, eu deixei passar, e mesmo prostrada, quebrantada, desalentada engoli o resto do amor que me sobrava no peito junto à uma dose de vodka velha, pra garantir que eu não me engasgaria. Depois senti meu peito arder sem saber se era devido ao sentimento ou a bebida.

Eu vomitei por horas, e meu estômago queimou por dias, mas eu não ia me deixar desmoronar, eu sabia que uma hora essa dor ia passar.

E eu não estava errada, uma noite eu acordei e a dor tinha ido embora, eu não sentia nada; o que aparentemente era um motivo a ser comemorado. Ocorre que me sobrou um demasiado e desprezível vazio por dentro, tão ruim quanto a dor de outrora. E é tão estranho viver sem sentir nada, é tão bizarro sentir falta de uma coisa ruim, eu tinha saudades da dor, de uma coisa que me fazia mal. Eu sentia falta do amor. Eu sabia que havia sobrado uma lacuna por dentro de mim. Como um sentimento regado a sofrimento pode deixar saudades?

O amor é uma loucura, é insano, é demente, é psicótico; a gente se doa, a gente dá, se entrega por inteiro, vai de cabeça, esquece o medo, desconsidera o julgamento de outrem, ignora a dor de antes, esquece as lembranças e o orgulho ferido. Junta os destroços do coração, cola tudo e se refaz, tira a maquiagem borrada, se enaltece, diz e acredita em vãs demagogias e se entrega de novo, cheio de expectativa julgando dessa vez ser algo extraodinário, mesmo sabendo que o fim intempestivo será o mesmo.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Nunca é uma promessa e eu nunca precisei de uma mentira

Você me ligou chorando e eu preocupado como sou, fui até a sua casa, pra descobrir que não se passava de mais uma das suas armadilhas. Nós conversamos e você chorou de verdade e me implorou perdão. E eu perdoei o que já havia perdoado há tempos dentro de mim.

Você me pediu um beijo, e eu sem hesitar pulei nos seus lábios. Você me beijou pelo pescoço e passou suas mãos pelas minhas costas, me trazendo de volta aquele velho arrepio de sempre, tirou minha camiseta e me beijou onde só você saberia beijar. Nós fizemos amor e eu não queria parecer insensível, mas queria muito ir embora, nem sabia o que eu estava fazendo na sua casa, não sabia o que fazer com você nua deitada do meu lado sorrindo e falando sem parar. Eu não sabia como dizer que precisava ir, não queria mentir ou inventar uma desculpa qualquer. Então você dormiu deitada no meu ombro esquerdo e eu nem ao menos pude sair a francesa.

Não dormi a noite toda, revirando na sua cama, pensando no que tinha acontecido há poucas horas, pensando se essa é a coisa certa a se fazer. As horas não passavam e eu queria ir embora pra minha cama chorar. Mas eu tinha dito sim pra você, como dizer sim e fugir no meio da noite? Que tipo de covarde seria eu?

Era de manhã já, os passarinhos não paravam de cantar lá fora impedindo qualquer possibilidade de um cochilo, o sol entrava pela fresta aberta da janela, e fazia muito calor. você dormia com as costas brancas de fora enrolada no edredom de estampa floral. Senti uma vontade estranha de te abraçar e te acordar com um beijo, assim como eu fazia há uns anos atrás, mais alguma coisa me impediu, a lembrança da primeira vez que meu coração foi partido veio à tona, e meu orgulho ferido não me deixou encostar em você. Ao invés disso eu procurei minhas roupas silenciosamente pelo quarto, me vesti, sai sem que você percebesse.

Horas depois o telefone toca e eu ouço o toque personalizado que você mesma colocou no celular. Não ouso atender, até porque não saberia o que dizer. Eu sei que foi errado, eu sei que eu agi mal; se eu não te quisesse era melhor não ter ido até você e dito sim. O problema é que eu te quis, mas não sei se quero mais. Agora como voltar atrás? Eu não sinto mais dor, é uma coisa que eu já superei, não importa mais, não dói mais. Mas tudo o que eu fiz foi pra evitar que aconteça de novo, mas como fazer com que você entenda isso? Porque com você é diferente, não é um desses amores de fácil adeus, eu nunca consegui me despedir, mas nunca mais vou conseguir me aproximar.