segunda-feira, 4 de julho de 2011

Contradições

Dias atrás eu estava sentada na calçada com uns amigos, como costumava fazer quando tinha uns onze anos e já me considerava adulta o suficiente para brincar de boneca.
Houve uma noite em especifico, que nós já havíamos bebido com um pouco mais de excesso que o habitual, e foi nessa noite gelada que uma garota chegou e se sentou do meu lado e eu deliberadamente bêbada fui puxando um assunto atrás do outro, e mesmo com a língua um pouco enrolada nós conversamos abundantemente. Determinada hora ela perguntou-me se eu não havia namorado você há alguns anos. Eu confirmei e questionei-a. Ela me contou uma breve história dizendo que encontrou você num dia qualquer na rua, e você disse que queria tomar um porre, ela brincou dizendo que sua namorada ficaria brava e você respondeu: “Imagine, ela vai toma esse porre comigo.”
E essa história tola, esse pueril acontecimento, me fez lembrar como nós éramos bons juntos, me fez perceber que eu ainda não sei como agir quando me perguntam de você. Não sei se demonstro meu asco ou se deixo os olhos lacrimejarem de saudade. 
Sabe, as coisas não foram de um todo ruim, mas eu admito que muitas vezes por minha culpa, nós nos atacamos feito cão e gato. No entanto não vim até aqui para explicar-me ou pedir desculpas. Sinto que não preciso mais disso, apenas considero  injusto a maneira como meu peito arde quando eu acordo assustada nas madrugadas que você decide invadir novamente meus sonhos, ou quando olho uma vitrine distraída e vejo uma camisa de super herói, ou uma caneca colorida.
Concentro-me na parte ruim e turbulenta do nosso relacionamento e percebo o quão pouco sobrou de tudo aquilo que era bom. Fizemos coisas tão infantis e magoamos tanto um ao outro, que perdi a conta de quantas vezes falei que ia embora esperando você se adiantar e trancar a porta.
Me pego tentando entender às vezes os motivos de nossa separação, e é quando olho o álbum de fotografias, e abro aquela gaveta de coisas que você não levou quando foi embora da última vez. Ainda guardo seu meião preto de futebol e algumas cordas estouradas da sua velha Stratocaster vermelha, dentre outra porcarias cujas quais eu não consigo me desfazer.
Não é que dói pensar em você, só é estranho sentir esse vazio quando escuto seu nome tão comum saindo da boca de pessoas estranhas durante o caminho de volta pra casa.
Mesmo depois de tanto tempo, ainda me sinto estranha a seu respeito, estou percebendo o amor imensurável que eu sentia se esvair, e essa sensação de perda me deixa quebrantada.
Mesmo assim eu sei que a vida vai seguindo o curso que tem que seguir e nós não podemos mudar determinadas coisas, nós decidimos seguir lados opostos de uma bifurcação, então eu vou pelo meu caminho e espero que você vá pelo seu com retidão, até quem sabe um dia no meio de setembro nos encontremos lá na frente, numa estrada única e longa.