domingo, 27 de fevereiro de 2011

Pierrot e Colombina


Carnaval tá ai! E essa é uma época que eu tenho saudades de passar do seu lado, sempre lembro de nós pelas avenidas, dois foliões, bêbados, andando abraçados e cantando, quatro dias só nossos, festejar na rua, festejar na cama.

É, o carnaval ta ai, e eu queria amanhecer nos seus braços de ressaca, preparar um café forte pra nós, tomar uma banho juntos e voltar pros lençóis de super heróis.

Desfilar no mesmo bloco, você de Pierrot e eu de Colombina, e mostrar pra todo mundo o que o nosso amor é a coisa mais bonita dessa festa toda.

Cada noite uma aventura diferente, um drink novo, uma fantasia nova. Criticar as músicas do momento e ouvir nossa playlist sozinhos na sua casa. Dançar um bolero imaginário de madrugada, só com a luz da lua iluminando nossos corpos nus [...] E eu guardo muitas lembranças desses dias de carnaval, desses dias que só eu me lembro, porque só eu os vivi.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Ponto final


Já faz tanto tempo que talvez eu não te reconheça, nem sei se você ainda é a mesma, seu rosto se desfoca quanto eu fecho os olhos e te imagino, e eu não me recordo se aquela pinta ficava do lado esquerdo ou direito. Faz tanto tempo que talvez eu nem saiba mais como você é, se ainda usa chinelos ou se mudou o corte de cabelo, se ainda ta magra ou se pegou uma cor. A única coisa que eu sei, é que nunca vou esquecer-me dos seus olhos redondos e castanhos que me olhavam na alma e decifravam meus pensamentos, entre retratos quebrados e cartas rasgadas o seu olhar é a única coisa que me sobrou intacta.

Fico pensando se já tem um filho, ou se ainda sente saudade de mim, se ainda ouve aquela canção, ou se canta sozinha no espelho. Fico pensando se ainda tem aqueles desvarios, se ainda tem aquela boneca velha...

Não tenho definição que explique o que eu venho sentindo, não é saudade isso eu posso afirmar, talvez nostalgia, não sei. Mas de repente, no meio da noite eu acordo pensando em você, mas não sei como te ligar, não sei se vai atender, não sei ao certo se o numero é esse. Não sinto mais aquela dor lancinante, aquele torpor atrelado a mim. Mas ainda sinto.

Quem sabe um dia, os nossos caminhos não voltem a se cruzar, pra que talvez a gente consiga enfim, colocar um ponto final nos nossos desencontros cheios de reticências e vírgulas.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Incêndio


Eu não queria ter saído da cama hoje, porque assim que eu abri os olhos na escuridão do quarto eu lembrei que a exatamente três anos você me roubou um beijo numa sala escura e que desde então eu não consigo deixar de te amar.

É tudo muito estranho e confuso quando se trata de você, e eu perco o controle facilmente, é como se você causasse algum tipo de efeito sobre mim, que me anestesia, me entorpece, me hipnotiza, é como se eu fosse uma marionete em suas mãos. Essa semana foi realmente difícil pra mim, talvez o peso desses três anos tenha me deixado meio retraída, meio presa, e meio calada (o que você sabe que é difícil de conseguir). Nenhum rosto, a não ser o seu tomou conta dos meus pensamentos, nenhum outro nome saiu da minha boca, mas hoje, mas do que nunca eu me cansei, eu realmente cansei desse nosso amor de caixinha de fósforos. Sabe como é né? A gente tira um fósforo quando ta precisando, risca, e aquela pequena chama explode e se consome em segundos, tudo muito rápido, muito intenso, muito ardente, e se apaga da mesma maneira que começou. As pontas dos meus dedos estão queimadas de tanto tentar fazer com que a chama dure mais que alguns momentos, e confesso, tenho medo dos fósforos acabarem, porque é SÓ isso que a gente tem, uma caixa de fósforos. Mas eu quero mais, eu quero que alguém coloque fogo numa floresta por mim, que esse fogo queime por muito tempo, eu quero entrar no meio das chamar e arder com todo o resto, eu não quero paz e sossego, eu quero tumulto, quero estrago, eu não quero uma chama, eu quero um incêndio.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

As coisas já não são como antigamente

Eu sei que não vai voltar, e as coisas já não são como antigamente, você sabe bem o que eu quero dizer com isso. Acontece que eu não consigo me desligar, existe alguma coisa, que eu não sei definir, algum tipo de ligação, um elo talvez, eu não sei. Já tentei ser mudar e me afastar de todas as maneiras, só que existe essa coisa, que é mais forte que eu, MUITO mais forte que eu.

Hoje desejei mais do que nunca não ter um coração, tentei mais do que nunca ser racional e decidir o que é melhor manter-me longe, distante, pro meu próprio bem.

Eu já não mais me preocupo se você come direito, ou escova os dentes antes de dormir. Não me sinto mais íntima a ponto de pensar nessas coisas, mas ainda sinto falta de cuidar de você quando ficava doente e dengoso, de esperar na fila do hospital e segurar sua mão enquanto você toma soro. Mas, nem chega ser esse o problema, saudade dá e passa, a gente chora e ouve Caetano, mas depois melhora. O que ta realmente me consumindo é não saber se um dia eu encontrarei alguém que me faça sentir fogos de artifício como você fazia. Eu sinto falta deles, acho que no fundo eu não quero novos fogos de artifícios, eu quero os seus fogos, os que eu já conheço os sons e as cores, eu quero aquela sensação de implosão de volta na hora que a gente se beija. Mas eu me conformo, tenho de me conformar, não me pertence mais. Você, hoje, está destinado a fazer outra garota implodir e se arrepiar, e é muito difícil pra mim, ter de admitir que perdi, eu sou competitiva, você sabe, não gosto de perder.

Eu não quero suas desculpas, até porque você já esta perdoado, eu não quero que se culpe, do mesmo modo que eu não o faço. Eu só quero seguir em frente, porque de qualquer jeito vai doer, com ou sem você. É eu sei, as coisas nunca mais serão como antigamente.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Árvore de limão


Quando fizemos três anos, fomos com seu pai ao sitio da família num dia ensolarado, encontramos uma semente e a plantamos na terra, regamos e ficamos sentados por uns dez minutos esperando algum resultado, e então nos cansamos e fomos correr atrás das galinhas. Eu ainda tenho as fotos desse dia.

Quando tínhamos seis, voltamos pra chácara e descobrimos ser um pé de limão a nossa sementinha misteriosa, o limoeiro estava abarrotado de frutos, nós colhemos, e você se espetou em um espinho, eu dei um beijo no seu dedo, e você ficou sem graça, me empurrou e saiu correndo, sua mãe nos fez um suco com os limões, nós bebemos e ficamos bem.

Com oito, você disse todo distraído pra irmos até a árvore de limão, eu te corrigi dizendo que o certo era limoeiro, nós brigamos e não conversamos mais naquela tarde.

Nos encontramos todos os anos, nas datas comemorativas, feriados e aniversários. Mas foi só com catorze que voltamos naquele sitio, foi quando nos beijamos pela primeira vez, e com quinze você entalhou nossas iniciais naquela árvore com o canivete que havia ganhado do seu avô de aniversário.

Nós namoramos algumas semanas nas férias, e eu pensava em você o tempo todo quando estávamos em período letivo. Te escrevia cartas que nunca saíram da terceira linha e ensaiava diálogos na frente do espelho.

Com dezessete pegamos um cobertor escondidos e subimos até onde o nosso pé limão estava, ficamos deitados olhando pro céu e fizemos amor pela primeira vez observados por aquelas folhas velhas e amareladas.

Conversamos por telefone todos os dias daquele ano, e do ano seguinte e do próximo. Com vinte e três você me buscou em casa, dirigiu quilômetros e me fez subir correndo até o limoeiro pra podermos chegar a tempo do por do sol, porque você tinha comprado um anel pra me pedir em casamento.

Com quase vinte e cinco anos a gente colheu nosso primeiro limãozinho depois de nove meses esperando.

Hoje com oitenta e dois anos e pouquíssima sanidade eu olho pra lá com a vista turva e mesmo tendo esquecido de quase tudo e todos eu lembro de todos os momentos que passamos embaixo dessa árvore que tem poucas folhas e que não da mais frutos há muitos e muitos anos, que hoje em dia serve de lar pra alguns pássaros, como serviu por tanto tempo de lar pra nós.