segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Árvore de limão


Quando fizemos três anos, fomos com seu pai ao sitio da família num dia ensolarado, encontramos uma semente e a plantamos na terra, regamos e ficamos sentados por uns dez minutos esperando algum resultado, e então nos cansamos e fomos correr atrás das galinhas. Eu ainda tenho as fotos desse dia.

Quando tínhamos seis, voltamos pra chácara e descobrimos ser um pé de limão a nossa sementinha misteriosa, o limoeiro estava abarrotado de frutos, nós colhemos, e você se espetou em um espinho, eu dei um beijo no seu dedo, e você ficou sem graça, me empurrou e saiu correndo, sua mãe nos fez um suco com os limões, nós bebemos e ficamos bem.

Com oito, você disse todo distraído pra irmos até a árvore de limão, eu te corrigi dizendo que o certo era limoeiro, nós brigamos e não conversamos mais naquela tarde.

Nos encontramos todos os anos, nas datas comemorativas, feriados e aniversários. Mas foi só com catorze que voltamos naquele sitio, foi quando nos beijamos pela primeira vez, e com quinze você entalhou nossas iniciais naquela árvore com o canivete que havia ganhado do seu avô de aniversário.

Nós namoramos algumas semanas nas férias, e eu pensava em você o tempo todo quando estávamos em período letivo. Te escrevia cartas que nunca saíram da terceira linha e ensaiava diálogos na frente do espelho.

Com dezessete pegamos um cobertor escondidos e subimos até onde o nosso pé limão estava, ficamos deitados olhando pro céu e fizemos amor pela primeira vez observados por aquelas folhas velhas e amareladas.

Conversamos por telefone todos os dias daquele ano, e do ano seguinte e do próximo. Com vinte e três você me buscou em casa, dirigiu quilômetros e me fez subir correndo até o limoeiro pra podermos chegar a tempo do por do sol, porque você tinha comprado um anel pra me pedir em casamento.

Com quase vinte e cinco anos a gente colheu nosso primeiro limãozinho depois de nove meses esperando.

Hoje com oitenta e dois anos e pouquíssima sanidade eu olho pra lá com a vista turva e mesmo tendo esquecido de quase tudo e todos eu lembro de todos os momentos que passamos embaixo dessa árvore que tem poucas folhas e que não da mais frutos há muitos e muitos anos, que hoje em dia serve de lar pra alguns pássaros, como serviu por tanto tempo de lar pra nós.

Um comentário:

  1. Escreveste com genialidade, maturidade e ternura. Minhas sinceras congratulações, prima!

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