quarta-feira, 1 de junho de 2011

Espero outro dia vir

Eu queria poder apagar alguns dias. Só os dias ruins, sabe, como o de hoje. Parece que durante todo esse tempo eu vim cavando um buraco e escolhi hoje pra entrar nele. Aqui é ermo e frio e não importa o quanto você se agasalhe, o frio talvez só passe com um abraço da pessoa certa. Mas ninguém entende que é disso que você precisa, ninguém te entende porque você já não fala mais a mesma língua que os outros a muito tempo. E é tão chato, tão custoso sentir a mesma coisa o tempo todo, o mesmo vazio que não se finda, padecer pelos mesmos motivos, chorar pelas mesmas lamúrias. Não quero aborrecer ninguém por isso passo as semanas pacata, disfarçando o desgosto com sorrisos de mentiras, cigarros e bebidas, mas chega um momento que você é obrigada a ficar sã. E a dor é iminente.
Eu queria realmente poder apagar esses dias frios e cinzentos e solitários do meu calendário ou então conseguir enfrentá-los sem que eles rasguem as cicatrizes quase fechadas dentro de mim.
Ontem, depois de ver um filme, eu sentei no chão do banheiro e chorei até as 3 da manhã, porque eu não sei mais como fazer pra organizar a bagunça que ficou aqui. Aquela sensação de vazio me invade a cada entardecer e eu já não sei como lidar com essas contingências
Agora o Jamie Cullum tá cantando High and dry do Radiohead aqui no meu quarto e a única coisa que eu consigo fazer é cavar mais e mais aquela fenda, a qual há dias que eu não consigo encontrar a saída. Mas talvez eu precise passar por esses dias ruins pra reconhecer os dias bons. E talvez eu me esforce demais pra deixar as coisas do passado no passado, fazendo com que elas ainda façam parte do meu presente. Quem sabe eu só precise ficar sozinha, um pouco mais sozinha, esperando alguém que saiba falar minha língua e que esteja disposto a me resgatar da minha sepultura, mesmo sabendo que esse alguém não existe e por isso nunca vai chegar.